A conclusão da primeira fase das obras do Porto Maravilha já desencadeou um processo de revitalização histórico-cultural na região, incluindo a chegada de novos empreendidos e o resgate do orgulho de moradores e músicos que voltam a agitar a região
A história e a cultura do Rio de Janeiro e do Brasil passam necessariamente pela Região Portuária. Afinal, o território identificado como “Pequena África” foi uma das maiores portas de entrada de negros escravizados nas Américas – e com eles, claro, desembarcou muito do que se entende por Rio de Janeiro, incluindo a música, a culinária e até o jeitinho carioca. Desde os primeiros terreiros e rodas de samba do século retrasado até hoje, por lá passaram sambas imortais, sangraram pelos nossos pés e sambaram nossos ancestrais, como cantou Chico Buarque e como conta Arthur Pamplona, de 75 anos, 70 deles sobre os paralelepípedos da velha cidade.
– Aqui era a zona boêmia do Rio. Existia a Lapa, mas a Lapa foi caindo, caindo, e a Praça Mauá se manteve. Aqui competia com Copacabana – lembra Arthur. – Eu vim para cá antes da Perimetral, antes do Píer. Estou aqui no tempo em que o serviço de coleta de lixo era feito por carroça puxada a cavalo.
– Aqui era a zona boêmia do Rio. Existia a Lapa, mas a Lapa foi caindo, caindo, e a Praça Mauá se manteve. Aqui competia com Copacabana – lembra Arthur. – Eu vim para cá antes da Perimetral, antes do Píer. Estou aqui no tempo em que o serviço de coleta de lixo era feito por carroça puxada a cavalo.
Arthur lembra, saudoso, do tempo que comandava uma oficina mecânica ao lado do restaurante Bauru, no início da Rua Sacadura Cabral. Por lá passavam Ary Barroso, Dalva de Oliveira, Linda Batista, Jorge Veiga e muitos outros que saíam da Rádio Nacional, sediada no Edifício A Noite, então o maior da América Latina fincado a poucos metros da Praça Mauá. Do adro da Igreja São Francisco da Prainha, onde mora até hoje, Arthur via sempre o sambista João da Baiana seguir em direção à Pedra do Sal, cujo largo o homenageia.
– Ele passava pela Sacadura Cabral todo vestido de branco, muito ereto, com chapéu branco n cabeça e um cravo vermelho na lapela. Passava aqui calmamente, fumando seu cigarro até a Pedra do Sal. Lá começou um sambinha pequenininho. Era uma ‘meia dúzia de seis’, que tinha por ali e ficava por ali. Era uma coisa bem singela, muito íntima – lembra Arthur.
A tradição é mantida até hoje, mas com muito mais efervescência. Incentivada pelo Porto Maravilha – que fornece banheiros químicos e cuida da limpeza da região –, a Roda de Samba da Pedra do Sal, que acontece toda segunda-feira, canta e conta a história dos músicos que marcaram a Música Popular Brasileira, como Pixinguinha, Donga e tantos outros.
– Tenho um orgulho danado de fazer parte dessa roda. Aqui passaram grandes mestres da música, e é um lugar com uma religiosidade imensa. E nosso trabalho tem a importância de contar essa história para as pessoas, que muitas vezes não sabem – festeja o sambista Rogério Família.
Mesmo orgulho compartilhado Rigo Duarte, dono do Angu do Gomes. Neto do sócio-fundador do famoso prato, Rigo refundou o estabelecimento no início dos anos 2000 e fincou base no Largo São Francisco da Prainha, onde seu avô começou os trabalhos na década de 50. Hoje, já colhe os frutos da revitalização.
– Escolhi mais pela história da minha família, e também pelos alugueis mais baratos. Não esperava por essa transformação. Imagino isso aqui como uma nova Lapa, mas com muito mais história. Eu amo cada pedaço desse lugar, cada morador… aqui preserva um pouco da gentileza do passado, todos se conhecem, se cumprimentam, não tem briga. Diante da revitalização, ampliamos a casa, que agora terá três andares e shows de samba, mas só samba tradicional – comemora Rigo.
O empresário Luiz Henrique Lessa é outro que aposta no novo Porto. Ele deixou a cidade há 15 anos, numa época em que a cidade viva sem perspectivas e a Região Portuária, mais especificamente, parecia fadada à degradação.
– O Porto é a menina dos olhos do mercado de investidores, e isso se deve não só ao projeto urbanístico. Uma região rica culturalmente, com oportunidades e perspectivas sociais é cada vez mais valorizada no mercado – completa Lessa.
Isso vale para todos os setores. A historiadora Priscila Melo, que leva grupos de turistas a passeios históricos no Porto, afirma que houve um grande aumento na procura pelos roteiros, inclusive por cariocas.
– A gente brinca que o carioca está sendo turista na própria cidade. Muita gente passa pelo Centro e desconhece a riqueza histórica da região. Antigamente as pessoas tinham medo de passar por aqui, hoje todos vêm sem medo. Para se ter uma ideia, fechamos um convênio com uma empresa da região para fazer passeios com seus funcionários. O contrato seria de um mês, mas a demanda foi tanta que já estamos no sexto mês e a procura só cresce.
FONTE: SITE CIDADE OLÍMPICA
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